Aulas

      10º ano


Matéria do 10º ano



Os Valores – Análise e compreensão da experiência valorativa 



No nosso quotidiano estamos constantemente a emitir juízos.

Isso acontece quando expressamos os nosso sentimentos, os nossos gostos ou avaliamos uma
situação, uma ação, um acontecimento. O ser humano faz diariamente um registo valorativo
acerca de tudo que o rodeia. Aprecia, prefere, escolhe, deseja. Tem um ideal ou um padrão de
ser ou de agir, que uma sociedade idealiza. Os valores adquirem a sua importância conforme o
contexto histórico, social, económico e politico que está inserido. Estes não existem por si
mesmos. Eles dependem sempre de um sujeito. Surgem-nos como simples qualidades: a
beleza de um quadro. O agrado ou desagrado perante uma situação ou perante um objeto.etc.

Quando emitimos um Juízo de Valor acontece quando preferimos alguma coisa em
detrimento de outra. Escolhemos, apreciamos, valorizamos. (exemplo: Gosto da pintura
impressionista.) ( exemplo: o quadro de Monet “Impressão, nascer do Sol” é belíssimo) Este
juízo de valor exprime uma preferência. É de natureza sensível, emotiva, subjetiva, afetiva e
relativa porque é discutivel. O facto de um individuo x gostar desta pintura não significa que
todos os indivíduos gostem ou tenham preferência por este tipo de pintura.

Mas no nosso dia a dia também descrevemos outro tipo de Juízo. Emitimos juízos imparciais e
neutros relativos a factos ou acontecimentos reais sem qualquer interpretação ou apreciação
por parte de um individuo ou sujeito Estes juízos são conhecidos por Juízos de Facto.
(exemplo: “Nascer do Sol” é uma pintura de Monet), ( exemplo: Lisboa é a capital de Portugal).
São factos reais e verificaveis pois não dependem da subjetividade do sujeito.



Ao falarmos na subjetividade do sujeito temos que falar que existem duas conceções
relativas á natureza dos valores, uma objetiva outra subjetiva.

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Uma afirma que os valores valem por si próprios – conceção objetiva de valor

Exemplo: O amor, paz, respeito, solidariedade, igualdade e tolerância pelo próximo etc.
Fazem parte da Declaração dos Direitos Humanos. Todos os seres humanos têm direito e
devem usufruir destes valores. Daí que alguns filósofos os designam em universais e
absolutos.

Max Scheller (1878-1928) é um filósofo alemão representante do objetivismo moral.

A solidariedade como os outros valores acima descritos são valores morais/politicos.



Conceção subjetiva de valor – resulta de uma escolha ou apreciação do sujeito.

Exemplo: Para o Paulo a pintura expressionista é belíssima .

Para a Ana a pintura expressionista não é bonita.

Neste caso estamos perante um valor estético. Dizem respeito ao belo, ao feio, ao
rude, ao suave ao sublime etc. O que há de carateristico neles é que implicam um
dever ser mas não um dever fazer. Quando se vê um belo monumento , vê-se
também que assim deve ser mas não um dever fazer.



Com valores morais ou religiosos há uma implicação de um dever fazer, por
exemplo, roubar, assassinar são ações más e moralmente são consideradas de
índole criminosa. Não se deve fazer. Do ponto de vista religioso é considerado um
pecado o que implica o não fazer.



É preciso lembrar que a vida é algo muito complexo e precioso e não se cinge apenas
ao não dever fazer ou dever fazer de uma forma tão linear. Com múltiplos problemas
que vão surgindo na sociedade e no mundo, qualquer ação, ou escolha por parte de
um ou mais indivíduos está intrínseco vários valores que são analisados e discutidos
de uma maneira responsável e conscienciosa por várias entidades com legitimidade
para isso. (mais á frente podemos estudar isto através das normas jurídicas, normas
Morais; Funções do Estado; )



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Concluindo:

Verificamos que nestes valores estéticos, éticos, religiosos etc existe sempre uma
escolha e uma ação por parte do sujeito logo são subjetivos.



Como podemos ver através destes exemplos que :

O objetivismo axiológico é aquele em que o valor existe independente de cada
individuo. Há valores absolutos, incorporados neles próprios que se impõem por si mesmos e
não dependem de um sujeito e ultrapassam ou transcendem o ser humano.

O objetivismo axiológico vai ser defendido por uns e criticado por outros e vamos verificar isso
através do (1) relativismo cultural.

Exemplo: O bem e o mal, valores defendidos como absolutos(objetivismo axiológico) por
filósofos tradicionais como Platão por exemplo que acabam por ser postos em causa pelos
(2)sofistas na Grécia.

O racismo/escravatura – por exemplo – numa dada época foi aceite e mais tarde é
considerado um crime contra a humanidade. Podemos verificar que numa época não era
considerado um atentado contra um grupo de seres humanos mas a partir de um determinado
espaço e tempo começa a ser visto como um crime horrendo.



Numa determinada época – racismo é tolerado e aceite

Numa outra época – racismo – não é tolerado, não é aceite, é um crime – vai contra os Direitos
Humanos.

Verificamos que valores como justiça, tolerância, Igualdade etc não foram praticados numa
sociedade esclavagista. Numa sociedade em que se praticou a escravatura estes valores
não corresponderam ao significado que atualmente damos ou valoramos. A universalidade
exigida por alguns filósofos relativamente a estes valores foram relativizados num
determinado contexto histórico, pois oscilaram, dependeram do ideal ou de um padrão
exigido numa determinada época.



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Se o objetivismo axiológico é defendido por uns e posto em causa por outros o mesmo
acontece com o subjetivismo axiológico.


O subjetivismo axiológico 
O valor depende do sujeito, dos seus sentimentos, das suas escolhas ou apreciações,
da subjetividade humana ou coletiva. Aqui os valores são contingentes e variam , pois
cada individuo determina individualmente o valor das coisas. Esta perspetiva leva-nos
a defender um subjetivismo e relativismo axiológico.




Relativismo cultural – diferenças culturais entre povos, diversidade cultural. Exemplo – Na China
contemporânea, no povoado mosuo de trinta mil pessoas, ás margens do Lago Lugu há uma sociedade
matriacal. Não existem os papeis de pai ou marido. Os homens fazem atividades domésticas e são
comandados pelas mulheres. O nome da família são passados de mãe para filha. (enciclopédia livre –
Wikipédia)



(2) Sofistas – ( No sec V a. C na Grécia) surge uma classe de pensadores ou professores itinerantes que
ensinavam de cidade em cidade a arte de argumentação ou seja a arte de bem falar ou de persuadir o
publico. Estes ensinamentos destinavam-se principalmente aos jovens atenienses que queriam seguir
uma carreira politica. Como viajavam de terra em terra foram observando que determinados valores
variavam conforme a cultura e as crenças de cada povo. O Bem e o Mal – valores considerados
absolutos e universais pelos filósofos tradicionais como Platão e através dos Diálogos de Sócrates são
postos em causa.



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Caraterização geral dos valores 


Os valores têm um valor positivo e outro negativo. Exemplo: Bom/Mau; Feio/Bonito. Estamos
perante uma das caraterísticas dos valores, a SUA POLARIDADE ou BIPOLARIDADE.



Cada cultura ou sociedade, ou cada individuo dá mais primazia ou prioridade a determinados valores
do que a outros ou valoriza mais um valor em detrimento de outro. Chama-se a isto uma
hierarquização ou tábua de valores. Esta hierarquização ou tábua de valores está sempre
associada á vivência e ao meio ou cultura do individuo em que alguns valores têm mais ênfase ou mais
importância que outros.



As avaliações dos valores divergem em consonância com a época e com o tempo, oscilando mas
também há valores essenciais que se mantêm ao longo da história independentemente do lugar e
do tempo como a Vida, o Amor, a Justiça etc apresentando um sentido imperativo, forte. Chamamos
a esta caraterística Historicidade.




Há valores que têm um sentido imperativo, absoluto e que são orientadores ou guias para
determinadas ações humanas, estes são considerados universais mas também há valores relativos
que dependem de uma época e cultura. Estamos perante a sua Absolutividade e relatividade.





Há diferente tipos de valores 


Tábua de Valores de Max Scheler e Ortega Y Gasset 


Valores religiosos, espirituais, vitais, úteis



Valores religiosos: divino/demoníaco ; sagrado/profano




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Valores espirituais: 
Ligados á realização humana: conhecimento/erro

Éticos: justo/injusto



Estético: gracioso/tosco






Valores Vitais: 

Que dizem respeito á vida humana: são/doente; enérgico/inerte



VALORES ÚTEIS:

Relacionados com as necessidades do nosso quotidiano:

Necessário/supérfluo; abundante/escasso



Critérios Valorativos:

Desde sempre que o Homem se deparou com situações extremamente difíceis e
problemáticas que exigem dele opções ou escolhas. Atualmente Enfrentamos
problemas ecológicos, económicos, políticos, éticos, bioéticos, humanitários etc. Cada
ação implica responsabilidade e uma decisão ou critérios valorativos.

Critérios antropológicos, consensuais ou de argumentação, critério da
democracia.

Critério antropológico – Valores relacionados com a dignidade humana. Todo o ser
humano valoriza a liberdade, justiça, paz etc .




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Critério consensual ou de argumentação – Tem valor o diálogo onde se poderá
esclarecer dúvidas, ideias, decisões, interesses etc. Os filósofos K.O.Apel e J.Habermas
privilegiam o diálogo entre as pessoas, as comunidades, os países até á escala
internacional. Dão relevância á comunicação e argumentação entre os indivíduos pois
assim sendo as escolhas e decisões tornam se mais coesas e mais próximas da verdade
resistindo aos contra-argumentos. A validade ou a norma de um principio fica mais
forte quando é feita através da discussão ou comunicação.

Critério da democracia – Tem valor algo que foi escolhido maioritariamente. Tendo
valor algo que possa ajudar com o bem ao maior numero de pessoas.

Este critério pode ser posto em causa porque não é objetivo ou seja aquilo que a
maioria dos indivíduos considera valioso ou com um critério valorativo elevado não
significa que assim o seja. Mas tendo em conta o critério de argumentação aquilo, que
a maioria prestigiou ou valorizou é aceite.





Reflexão e meditação sobre os critérios valorativos. Conflito entre
valores.



O ser humano vê-se perante um quadro de múltiplas escolhas. Paz ou guerra ? Lucro
ou honestidade?

Somos confrontados diariamente com dúvidas e com conflitos interiores em que os
valores são questionados.


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Existem casos que nos fazem refletir e surgem os conflitos de valores
como:

Matar em legitima defesa como matar em situação de guerra é aceitável? Roubar para
matar a fome deve ser considerado crime? Mentir para poupar um amigo de um
desgosto estará certo ?

Tomar medidas de austeridade por parte de um determinado governo como acontece
em Portugal sobrecarregando e asfixiando financeiramente indivíduos com poucos
recursos económicos em prol do desenvolvimento do país ou da sua reestruturação
estará moralmente certo?

A poluição atmosférica é causada na maioria das vezes pelo setor industrial. Sabemos
que este é necessário para o desenvolvimento económico de um país e devido a este
fator muitas vezes se negligencia a forma como certos detritos são evacuados criando
situações de doenças para o ser humano e para o meio ambiente, acarretando
situações como poluição das águas, dos rios, dos mares etc.criando um desiquilibrio
ecológico. Verificamos continuadamente que se dá prioridade ao lucro á riqueza em
detrimento da saúde do nosso planeta

Mais uma vez surgem valores em conflito: O lucro e riqueza? Ou o bem estar do ser
humano? Ou a saúde do nosso planeta ? Estamos perante um problema ecológico,
moral, e económico.

Atualmente já se está a contribuir para estes desiquilibrios encontrando-se soluções. A
responsabilidade ambiental não depende apenas dos empresários mas também de
cada cidadão.




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Outro caso que quero expôr e que nos mostra como o Homem vê-se perante situações
de extremo onde as suas escolhas são determinantes e com consequências
avassaladoras para a humanidade. Históricamente temos casos perturbadores onde a
conflitualidade dos valores são visíveis e testados a todo o momento.

No fim da 2ª GG. Mundial (1945) Os Estados Unidos da América bombardearam
Hiroshima e seguidamente Nagasaki com engenhos nucleares. A decisão de lançar as
bombas sobre o Japão foi feita pelo Presidente Harry Truman, que estava a substituir o
falecido Franklin Delano Roosevelt. Esta escolha foi tomada porque o presidente H.T
queria terminar com a guerra o mais rápido possível e o Japão não se queria render.

A segunda decisão foi as escolhas dos alvos, Hiroshima e Nagasaki que segundo
reza a história eram as cidades do Japão mais desenvolvidas industrialmente. Não foi
uma escolha aleatória. Nesta opção estavam interesses políticos e económicos
imiscuídos. Com o fim da 2ª GG estas cidades tinham grande relevância para o Japão
que viria a ser a única potência a fazer frente aos E.U.A desequilibrando o fluxo de
capitais e mercadorias.

Conclusão: Esta decisão provocou milhares de mortes e civis (inocentes). Muitas
destas pessoas foram morrendo lentamente com doenças relacionadas com a
radioatividade.



Neste pequeno texto temos duas decisões tomadas: A primeira é acabar com a guerra
através de um ato desumano. Mas se não fosse assim como seria? Haveria mais
mortes ? A guerra prolongar-se-ia ?



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Esta decisão foi cimentada ou elaborada pelo governo dos Estados Unidos porque
estava preocupado com o sofrimento das pessoas ? e queria pôr fim à guerra ? Ou por
detrás desta decisão há interesses políticos e económicos ?

Na segunda decisão pode se verificar que a escolha dos alvos foi premeditada.



Há uma conflitualidade dos valores.



A primeira conclusão leva-nos a refletir que:



Há um Conflitualidade de valores ?

O poder económico (valor material – dinheiro ) sobrepõe-se aos valores Éticos (valores
espirituais-lealdade; vida; justiça; verdade etc) ?



A segunda reflexão leva-nos a questionar:

Foi a solução certa ? Foi necessário um ato violento, bárbaro, de destruição, matando
milhares de pessoas porque se não fosse esta decisão tomada prever-se-ia mais mortes do
que as que houve ?

Guerra para obter a paz ?

Como podemos verificar toda a nossa vida é rodeada de valores e que oscilam
permanentemente conforme as situações ou contextos históricos, políticos etc em que estão
inseridos. Já vimos que não é uma tarefa fácil.

Nesta ação podemos ver que o poder económico/financeiro(valor material) tem maior
relevância que qualquer outro valor.



A morte de muitos civis é afastada para segundo plano e relativizada,
Quanto á Segunda decisão tomada a informação que nos chega é que os alvos não
foram escolhidos ao acaso.