Excertos da minha página “Kant e o conhecimento” para os alunos do 11º ano que vão fazer o exame final de filosofia.

Aconselho a ouvir este vídeo do filósofo Paulo Ghiraldelli.

( 1º parte a importância do sujeito e da submissão do objeto aquele,11º ano).

Parte final " O ideal moral: tornar a vontade boa; moralidade; autonomia; e dignidade humana, 10º ano).



O criticismo Kantiano aparece-nos depois de uma reflexão debruçada sobre estas duas teorias (empirismo e racionalismo ) do conhecimento. Ele não adota uma atitude céptica e radical negando tudo, mas assume uma postura critica e de precaução. Kant começando por ser dogmatico racionalista (influência de filósofos Leibniz e Wolf) acaba posteriormente por receber influências do empirista David Hume que o despertou do “sono dogmático” .

Chegando assim ao criticismo, determinando os limites de uma metafísica que vença o cepticismo sem cair no arrojado dogmatismo.

Pretende ele resolver a questão de como o entendimento e a razão, livres de toda a experiência, podem conhecer e até que ponto podem conhecer.

Afinal só temos conhecimento dos fenómenos enquanto o númeno não nos é compreensível ou acessível, permanecendo desconhecido.
Kant não nega a existência das coisas. Conhecemos o fenómeno mas não o númeno. O primeiro não é a realidade em si, mas uma manifestação, aquilo que aparece ao sujeito cognoscente. O fenómeno aponta-nos para a realidade, embora esta exista não sabemos o que ela é em si mesma porque só temos acesso ao nosso modo de conhecer.

O Conhecimento na perspetiva de Kant: - é impossível conhecer a realidade em si mas a representação da realidade (idealismo); sendo o conhecimento uma organização dos dados sensoriais executado pelas categorias do entendimento do sujeito (apriorismo); é impossível conhecer a realidade metafísica (relativismo)






A revolução coperniciana de Kant

Até aqui todos os nossos conhecimentos regularam-se pelos objetos, Kant em vez de centrar neste passa a dar toda a atenção sobre o sujeito cognoscente. Passa a ser o sujeito o protagonista como também o elemento ativo do conhecimento. Os objetos giram á volta do sujeito dependendo deste e têm que se adaptar ás suas estruturas mentais. O objeto a conhecer gira á volta do sujeito que conhece como a terra gira á volta do Sol.

Esta revolução coperniciana é pois como quando Copérnico inverteu as posições da terra e do sol para explicar o Sistema Celeste, o conhecimento não deve partir da realidade mas esta é que deve ser examinada a partir do sujeito ou do seu ponto de vista.

O espírito age e intervém ativamente, sendo o real o produto ou resultado duma construção feita pelos nossos elementos a priori – hipótese idealista e a priori.

O nosso conhecimento passa a ser feito através de princípios formais do sujeito, as coisas têm que se ajustar ao nosso próprio modo de conhecer.

O objeto passa a ser submisso aos conceitos “a priori” do sujeito.

Kant acaba por superar o racionalismo e o empirismo.


Conhecer em Kant pressupõe uma matéria “a posteriori”, proveniente da experiência e uma forma “ priori “ imposta ao objeto pelo sujeito.
Este critério permite distinguir um conhecimento puro “A priori” (universalidade e necessidade) de um conhecimento empírico. Os conhecimentos da experiencia são contingentes e particulares.


Recapitulando:

O CRITICISMO (FILOSOFIA DE KANT) OPÕE-SE QUER AO DOGMATISMO QUER AO CETICISMO EMPIRISTA. SALIENTA A IMPORTÂNCIA DA CORRELAÇÃO NECESSÁRIA DO SUJEITO E DO OBJETO DO CONHECIMENTO E A SUBORDINAÇÃO DESTE ÀQUELE. Chama-se a isto revolução Coperniciana.

Realmente há uma subordinação por parte do objeto ao sujeito mas também existe uma correlação necessária dos dois.

Segundo Kant o conhecimento tem origem na sensibilidade e no entendimento:

As duas fontes de conhecimento em Kant são :
Sensibilidade: é a capacidade do sujeito receber representações dos objetos.
O entendimento pensa “ os dados” que a sensibilidade forneceu.



A diferença existente entre Kant e o Empirismo é que este último defende que todos os conceitos derivam da experiência. Kant não aceita esta afirmação pois existem conceitos que o entendimento possui que não provêm da experiência mas que só têm aplicação e validade dentro desta.

Na Critica da Razão Pura, Kant mostra-nos através da Estética Transcendental como o homem através da sensibilidade pode conhecer o objeto ou seja a sensibilidade é o poder que o nosso espírito tem de receber impressões pois esta ( a sensibilidade) determina a maneira como o objeto afeta o sujeito e defina a forma como nos relacionamos com o mundo.
Para isto acontecer somos dependentes de duas condições imprescindíveis e necessárias:
O espaço e o tempo - sem estas duas condições é-nos impossível ver uma coisa sem estar num determinado espaço e num respetivo tempo. Espaço e tempo são condições necessárias e gerais designadas por “formas a priori” da sensibilidade e intuições puras.

FORMAS: o espaço e tempo são formas ou o modo como apreendemos as impressões particulares como, os sons, as cores, os cheiros; a maneira como estas são entendidas no espaço e tempo.
A PRIORI: aquilo que não procede da experiência.
Espaço e tempo são intuições puras. Não são conceitos do entendimento.Só existe um tempo e um espaço.
Puras: vazio de conteúdo empírico. No espaço e no tempo é que se acomodam e ordenam as impressões sensíveis como: cores, sons etc.

Na analítica Transcendental
Espontaneidade do entendimento:


A sensibilidade só por si não é suficiente para podermos conhecer. Esta coloca-nos perante várias impressões no espaço e tempo e se perceber é a função da sensibilidade precisamos de algo mais para atingir o conhecimento. Compreender o percebido é a função do entendimento
Exemplo: Estamos a observar algo, uma boneca.
Os nossos sentidos percepciona impressões de formas, cores e outros num determinado tempo e espaço. O conceito – Boneca é o que estamos a ver. O conceito Boneca é a chave que nos permite compreender e interpretar essas apreensões.
“Isto é uma Boneca”.,” O gato é mamífero” etc.
O entendimento é a faculdade dos conceitos e dos juízos ou a faculdade de julgar.
Existem dois tipos de conceitos – os empíricos e os puros ou categorias
Os conceitos empíricos procedem da experiência como: galo, macaco, cão, casa etc. São todos aqueles que
procedem da experiência ou a partir da observação por parte de vários indivíduos.

Conceitos a priori – são aqueles que não derivam da experiência. Recapitulando: O entendimento produz conceitos espontâneos sem derivarem da experiência.
Conceitos puros: substância, causa, necessidade, causa, existência, - são aplicados ás impressões sensíveis.
Mas se a função do entendimento é formular juízos, unificar e coordenar dados da experiência sensíveis há tantas formas de unificar os dados da experiência, tantos conceitos puros como formas de juízos

A filosofia Kantiana foi influenciada pelo Iluminismo. O contexto histórico e social vivido nesta época é registada por este filósofo como uma situação humana de “menoridade”, falta da verdadeira liberdade. A tarefa critica da razão tem como objetivo a realização da liberdade a superação das opressões cívicas e da consciência. Opressões religiosas, sociais, históricas e politicas. A solução para esta situação está na critica da razão, onde o sujeito deve superar-se ,esclarecer-se, procurar em si mesmo os seus interesses. A máxima utilizada será raciocinar, refletir, ousar por si próprio, atingir os seus fins e conveniências. Autonomia, liberdade superação, coragem de te servir do teu próprio entendimento, submeter-se á autoridade da própria razão desde que esta seja uma razão esclarecida, a decisão de se servir dela com independência etc são fins a atingir através da filosofia de Kant. Como grande pensador que é faz também uma análise á própria natureza da razão. Esta deverá ser levada perante o tribunal de si própria de forma a tomar consciência dos seus limites, das suas capacidades efetivas e a poder tornar-se o apoio ou o sustentáculo do saber acerca da natureza, da ação moral e politica.
É sobre a autoridade da razão que todas as normas se devem assentar e ponderar, sejam elas de ordem individual ou social.

Kant pretende estabelecer os princípios e limites a partir dos quais é possível um conhecimento cientifico da Natureza ou seja responder à questão: que posso conhecer?

A segunda pergunta será para justificar as condições da liberdade e os princípios da ação ou seja responder à questão: que devo fazer ?

A terceira pergunta visa responder : que me é permitido esperar? Delinear projetivamente o destino ultimo do ser humano, testar as suas capacidades tendo como fim a sua realização.

Conclusão o projeto Kantiano é basicamente antropológico pois tenta libertar o homem da sua menoridade e obscurantismo através de uma clarificação racional tornando-o mais livre e justo encaminhando-o para a realização dos fins últimos do Homem. Kant vai responder a uma pergunta, esta que abarca as três anteriores: O que é o Homem?